ANÁLISE: CD Deus não te rejeita – Anderson Freire

Anunciado como um dos grandes lançamentos para o mercado fonográfico em 2016, a gravadora MK Music liberou para o público o mais recente projeto do cantor e compositor capixaba Anderson Freire que recebeu o título de Deus não te Rejeita.

O cantor, que começou seu ministério como vocalista do extinto Vocal Asafe – que anos depois se tornou Banda Giom por imposição da Gravadora MK MUSIC – e que alcançou notoriedade quando começou a emplacar diversas composições na voz de grandes artistas da música cristã nacional, foi uma aposta da gravadora que embalada pelo grande sucesso das composições de Anderson decidiu lança-lo no mercado como cantor solo apresentando o elogiado e platinado álbum Identidade. O resultado dessa aposta é o que todos nós sabemos: Hoje Anderson Freire figura entre os principais nomes da música nacional, não só no contexto Cristão, mas suas músicas são lembradas pelo público generalizado.

Assista e ouça a música Deus não te rejeita em lyric vídeo.

Deus não te rejeita chegou com uma grande responsabilidade em ser um CD tão bem aceito como Raridade, ou que traga uma musicalidade interessante como Identidade. Sobre a aceitação do público, não tem sido como os anteriores, mas sobre a musicalidade podemos dizer que o disco é bem abaixo do “padrão Freire”. Apesar de a mixagem soar mais organizada dando a sensação de um som mais limpo, os arranjos perderam totalmente a energia. Se em Identidade se via um Anderson querendo mostrar sua essência, em Raridade um Anderson imprimindo sua digital, o que podemos conferir em Deus não te rejeita é uma série de repetições e quando tentaram trazer algo novo, como o arranjo “praise and worship” na música Enche o Templo, o resultado é um tanto esquisito. Outra observação sobre a produção do disco é o peso do backing vocal que diminuiu muito, o que vinha sendo uma característica marcante nos seus dois primeiros álbuns de inéditas. A impressão que se tem ao ouvir Deus não te Rejeita, é que na tentativa de deixar os arranjos mais contemporâneos, se perdeu a característica tão marcante das produções do Anderson, apesar dele contar com praticamente a mesma equipe de músicos e arranjadores (Anderson, Adelso e Stéfano) dos álbuns anteriores. Um bom diferencial no álbum foi a gravação da orquestra de cordas feita na Rússia que contou com arranjos e arregimentação do consagrado Maestro Kleber Augusto, sendo a primeira gravação do artista com orquestração sinfônica de cordas.

Seguindo o padrão dos discos anteriores, Deus não te rejeita é autoral, mas a safra de novas composições não convence tão rapidamente como nos outros álbuns. A lira das canções se perdem em vários momentos, e o excesso de rimas empobrece a poesia das canções como na canção título do álbum Deus não te Rejeita. Em Identidade, Anderson gravava simultaneamente com Aline Barros sua composição Primeira Essência, que apesar das comparações pelo disco do Anderson e da Aline saírem em datas semelhantes, ambas foram elogiadas por críticos e público. Em Raridade, Freire regravava sua composição Acalma o meu coração, gravada um pouco antes por sua conterrânea Lauriete, porém a regravação feita pelo dono da obra foi bem superior a da gravação original feita por Lauriete. Em Deus não te Rejeita, mais uma vez Anderson regrava uma canção lançada em 2015 por Lauriete – Outro Igual não há, e apesar da versão original não ter apresentado um arranjo muito convincente, a regravação de Freire convenceu muito menos, apesar de a música ser interessante. A versão da Lauriete teve uma interpretação mais forte, característico da cantora.

A música de trabalho escolhida pela gravadora para divulgação do álbum é Culto do Calvário, onde o cantor canta sobre o sacrifício de Jesus na Cruz, onde as orquestrações de cordas já dão as boas vindas no álbum. A estratégia de divulgação da gravadora parece ser a mesma utilizada em Raridade, que primeiro lançou o single A Igreja Vem, que é uma canção mais voltada pro público cristão, e só depois lançaram o single Raridade, que alcançou enorme projeção fora do cenário Cristão. A fórmula até então se repete em Deus não te rejeita, canção de teor evangelístico que força a ser uma nova versão de Raridade. Talvez por tantas polêmicas envolvendo a centralidade do homem nas canções, Anderson tentou escrever sobre o homem em uma perspectiva mais Teocêntrica, como na faixa título Deus não Te Rejeita, e no dueto morno com Nivea Soares na faixa Sonhador, onde o cantor versa sobre 1 Coríntios 2:9. Força Jovem é outra canção que remete ao terceiro single de Raridade, Efésios 6, onde o cantor abre com um coro militar no início assim como em Efésios 6, mas a música não empolga nenhum pouco.

Deus não te rejeita sinaliza um pré-esgotamento na fórmula do cantor, que tem potencial, e muito, para se reinventar. Talvez essa política de se produzir musica cristã seguindo fórmulas e formas do que vem dando certo, precisa ser revista.

Ouça o CD completo no Spotify.

 

Análise feita por Philipe Daniel


Selo: MK Music
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Playlist: Culto do Calvário – incidental: Rude Cruz | Deus não te rejeita | Enche o templo | Crescimento | Sonhador | Relacionamento com Deus | Igual não há  | Extremo – Getsémani do meu ser | Fiel | Vida simples | Força Jovem | Tudo é vaidade | Paz na Guerra | O dono da seara